Réplicas digitais de órgãos humanos estão sendo criadas por consórcio internacional
O Instituto do Coração, em São Paulo, faz parte do projeto. O foco é o tratamento de doenças cardíacas e a tecnologia já começou a auxiliar casos complexos, como cirurgias e implantes para o coração. Com base no esporte, um consórcio internacional cria réplicas digitais de órgãos humanos
Um consórcio internacional, com a participação do Brasil, está criando réplicas digitais de órgãos humanos para ajudar a medicina.
“Olha a frequência cardíaca!”: quando um técnico quer saber se o atleta está mesmo se esforçando nos treinos, basta escutar o coração.
“No caso do atleta, o coração mostra o atual condicionamento técnico dele. O sistema cardiorrespiratório, cardiovascular. O coração é o principal termômetro para o dia do treino e no dia da competição”, ensina o treinador Wanderlei Oliveira.
É por isso que o esporte foi escolhido como ponto de partida para o desenvolvimento de um avanço da medicina. Algo que mais parece filme de ficção científica.
Imagine saber como o teu coração responderia ao esforço de correr os 42 km de uma maratona, ou como reagiria ao uso de medicamentos, ou se teria condições de suportar uma cirurgia delicada. Tudo isso sem riscos à saúde, usando apenas o computador.
São possibilidades que surgem do projeto “Gêmeos Digitais”, realizado por um consórcio internacional entre universidades, centros de pesquisa e empresas de tecnologia. O Brasil faz parte da iniciativa.
Cientistas escolheram uma atleta como uma espécie de cobaia de luxo. Em 2024, a americana Des Linden foi a primeira pessoa a ter o coração replicado digitalmente.
Ela tem 41 anos. No currículo, duas participações em Olimpíadas e uma vitória em uma das maratonas mais badaladas do mundo — a de Boston —, em 2018.
“Nós mapeamos o formato desse coração dela, em três dimensões, usando vários exames de imagem. E depois ficamos três meses desvendando com testes como ele funciona no dia a dia. Assim nasce a réplica”, explica o engenheiro Brian Purvis.
Com esse coração digital em funcionamento, é possível estudar diversos cenários, utilizando ferramentas de inteligência artificial. Cientistas podem, por exemplo, com um comando no computador, testar o máximo que um corredor aguentaria treinar antes de entrar em colapso cardíaco.
A Des Linden, por exemplo, aprendeu que tem mais fôlego do que imaginava. O coração da atleta suporta mais intensidade nos treinos do que o patamar que a equipe dela sempre imaginou.
O Instituto do Coração, em São Paulo, faz parte do projeto atuando em outra frente. O foco é usar os gêmeos digitais no tratamento de doenças cardíacas.
A tecnologia já começou a auxiliar casos complexos, como cirurgias e implantes cardíacos. Antes de fazer a intervenção no paciente, a operação pode ser testada em modelos no computador.
“Com essa simulação, eu vou fazer a cirurgia com mais segurança. E, de fato, vou saber se aquilo que estou propondo pode ou não ser executado”, afirma o cirurgião cardíaco Luiz Fernando Caneo.
Em breve, será possível saber qual a quantidade exata de medicamento que uma pessoa com problemas cardíacos precisa. Ou qual terapia é a mais eficaz pra tratar determinada doença.
“Nós queremos ser mais assertivos, mais custo-efetivos. E a gente quer ter segurança no que a gente faz. Então, a ferramenta digital chegou pra ficar e o gêmeo digital será nosso maior companheiro para segurança nos tratamentos futuros”, acredita Guilherme Rabello, diretor de inovação no Incor.
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